O par AUD/USD sobe por três dias consecutivos, com otimismo comercial, dólar mais fraco e demanda chinesa impulsionando o dólar australiano, apesar da aversão global ao risco.
Nos últimos pregões, o par AUD/USD mostrou uma surpreendente sequência de alta, subindo por três dias consecutivos e atingindo 0,6583 na quarta-feira, seu nível mais alto desde meados de julho. Esse impulso ocorre apesar de uma queda mais ampla no apetite global por risco, antes da iminência dos prazos tarifários. Então, o que está alimentando a resiliência do dólar australiano em relação ao dólar americano — e essa alta poderá continuar nas próximas semanas?
O principal fator por trás da recente valorização da taxa de câmbio do dólar australiano em relação ao dólar americano reside no enfraquecimento do dólar americano. Preocupações crescentes com um possível impasse nas negociações comerciais entre EUA e UE minaram a confiança no dólar americano. O presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou recentemente impor tarifas de 15% ou mais sobre a maioria das importações europeias, levando a UE a preparar medidas retaliatórias — incluindo impostos sobre empresas de tecnologia americanas, limites a investimentos americanos e restrições a licitações públicas. Essas tensões crescentes aumentaram os temores de uma desaceleração econômica mais ampla nos Estados Unidos.
O Goldman Sachs respondeu elevando sua previsão de tarifas recíprocas dos EUA para 15% e alertou para um período prolongado de crescimento lento. O consenso de Wall Street agora prevê que o PIB dos EUA crescerá apenas 1,1% este ano, aumentando a pressão de baixa sobre o dólar.
Enquanto isso, a melhora do sentimento em relação às relações EUA-China também ofereceu suporte ao dólar australiano. O secretário do Tesouro dos EUA, Bessent, deve se reunir com o ministro das Finanças chinês, Lan Fuoan, na próxima semana, com a possibilidade de adiar o aumento de tarifas de 12 de agosto em pauta. O presidente Trump alimentou ainda mais o otimismo ao anunciar planos para uma visita potencialmente "marcante" à China para tratar de questões comerciais e de segurança em andamento entre os dois países.
Paralelamente, diversos acontecimentos internos na China — o maior parceiro comercial da Austrália — reforçaram a defesa de uma taxa de câmbio AUD/USD mais forte. O principal deles é o compromisso renovado de Pequim em conter a "involução" — termo que se refere à competição destrutiva em mercados saturados — estimulando a demanda interna e reduzindo o excesso de capacidade.
O anúncio da China de um enorme projeto de infraestrutura no rio Yarlung Tsangpo, com um orçamento de 1,2 trilhão de RMB (aproximadamente US$ 167 bilhões), gerou expectativas de aumento na demanda por minério de ferro. Como resultado, os futuros do minério de ferro em Singapura atingiram a maior alta em dois meses, reforçando ainda mais o apoio ao dólar australiano, que está intimamente ligado ao setor de mineração do país, voltado para a exportação.
O Banco da Reserva da Austrália (RBA) surpreendeu recentemente os mercados ao manter sua taxa básica de juros estável em 3,85% em 8 de julho, contrariando as expectativas de um corte de 25 pontos-base. No entanto, a ata da reunião divulgada posteriormente revelou que o banco central permanece dividido. Algumas autoridades citaram os riscos persistentes da desaceleração do crescimento global e do PIB doméstico, enquanto outras apontaram o desempenho econômico mais forte do que o esperado como motivo para cautela.
O consenso dentro do RBA parece ser que uma flexibilização adicional é "razoável" ao longo do tempo, embora qualquer decisão dependa de dados. O mercado de trabalho está mostrando sinais de estresse, com a taxa de desemprego subindo para 4,3% em junho — a maior desde o final de 2021 — e o crescimento do emprego decepcionante. A participação subiu para 67,1%, mas o total de horas trabalhadas caiu 0,9%, indicando fragilidade estrutural na qualidade do emprego.
Em relação à inflação, os dados mais recentes pintam um quadro igualmente contido. O crescimento anual do IPC em maio desacelerou para 2,1%, ante 2,4% em abril, enquanto o núcleo da inflação caiu para 2,4%, o menor nível desde novembro de 2021. Caso os dados de inflação de julho — previstos para 30 de julho — mostrem fraqueza contínua, os mercados já estão precificando a possibilidade de um corte significativo nos juros, potencialmente de até 50 pontos-base, o que poderia pressionar o dólar australiano.
Os investidores também devem ficar de olho nos acontecimentos no Japão. Um acordo comercial recentemente firmado entre EUA e Japão inclui uma tarifa de 15% e US$ 550 bilhões em investimentos japoneses nos EUA. A instabilidade política está se formando à medida que aumentam as especulações sobre a possível renúncia do primeiro-ministro japonês. Embora negada por figuras políticas importantes como Shigeru Ishiba, a incerteza abalou os mercados.
O mercado de títulos do Japão também está sob pressão. O rendimento do título JGB de 10 anos subiu acentuadamente em nove pontos-base, para 1,57%, o maior dos últimos anos. Se os rendimentos japoneses continuarem subindo, isso poderá restringir a liquidez global e pesar sobre o apetite dos investidores por títulos americanos e europeus — afetando indiretamente a dinâmica mais ampla do mercado cambial, incluindo o dólar australiano em relação ao dólar americano.
Do ponto de vista técnico, o par AUD/USD mantém uma tendência de alta gradual desde abril. Após uma breve fase de consolidação de maio a meados de julho, o par parece ter encontrado um suporte sólido em torno do nível de 0,6500. À medida que os touros recuperam o controle, os próximos níveis de resistência são vistos em 0,6620 e 0,6710.
No entanto, os investidores devem ser cautelosos. Uma queda decisiva abaixo de 0,6480 pode invalidar a perspectiva otimista e desencadear uma nova tendência de baixa. As principais datas a serem observadas incluem o início de agosto, especialmente por volta do dia 6, quando potenciais mudanças macroeconômicas e indicações de bancos centrais podem gerar movimentos bruscos.
A recente alta do dólar australiano em relação ao dólar americano reflete uma confluência de fatores — um dólar mais fraco, um otimismo comercial hesitante, o estímulo econômico da China e a evolução da política monetária da Austrália. Embora o caminho para 0,6700 permaneça aberto, muito depende dos próximos dados e anúncios de políticas. Com a volatilidade provavelmente aumentando no início de agosto, traders e investidores devem ficar atentos a catalisadores que possam reforçar ou reverter a dinâmica atual do dólar australiano.
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